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18/09/2013

Vacas que pariram na primavera produziram menos leite

Foto: Rogério Cassimiro - Globo Rural
Pesquisa desenvolvida na região de Maringá-PR demonstrou que vacas da raça Holandesa que pariram na primavera produziram menos leite durante a lactação, o que pode estar relacionado ao estresse provocado pelo calor que estes animais sofreram no início da lactação.


No período de 1999 a 2007 foram monitorados os dados de produção e qualidade do leite de vacas do rebanho leiteiro da Fazenda Experimental de Iguatemi, pertencente à Universidade Estadual de Maringá. Ao analisar os resultados, verificou-se que não houve diferença na qualidade do leite produzido por animais que pariram nas diferentes estações do ano, entretanto, as vacas que pariam na primavera produziam menos leite durante a lactação que os animais que pariam nas demais estações.


Em um primeiro momento pensou-se que este efeito poderia ser resultado de diferenças na oferta de alimentos durante o ano. No entanto, o rebanho leiteiro em questão era semi-confinado, recebendo silagem de milho e ração concentrada durante o ano inteiro, além da pastagem. Logo, está hipótese foi descartada, já que os animais recebiam alimento balanceado em qualquer época do ano.

Então, uma segunda hipótese foi levantada: Será que as vacas que pariram na primavera sofreram mais com o clima quente da região? Para tentar responder a esta pergunta buscaram-se os dados climáticos históricos do período avaliado, obtidos em um posto meteorológico localizado na própria Fazenda Experimental. 



Em condições tropicas as vacas da raça Holandesa estão sujeitas ao estresse calórico, uma vez que estes animais são adaptados para regiões frias, tendo dificuldades para suportar temperaturas elevadas, o que se torna ainda mais difícil quando a umidade do ar é elevada, prejudicando as perdas de calor pela evaporação do suor. Quando uma vaca sofre estresse calórico ela diminui a ingestão de alimentos como forma de tentar diminuir a produção de calor gerado no processo de digestão dos alimentos. Se a vaca come menos ela produz menos leite.

Com o aumento no nível de produção de leite, aumenta-se a atividade metabólica do organismo, o que torna o estresse ainda mais agravante. Como o pico de lactação ocorre por volta dos 60 dias de lactação, as vacas que pariam na primavera apresentavam pico nos meses de verão. Ao analisar os dados climáticos, verificou-se que, justamente no verão, o Índice de Temperatura e Umidade (ITU) atingiu valores superiores a 72, que é o limite a partir do qual as vacas da raça Holandesa sofrem com o estresse calórico.



Ou seja, a diminuição na ingestão de alimentos, provocada pelo estresse calórico, prejudicou a produção de leite destas vacas que estavam no pico, contribuindo para que as lactações iniciadas na primavera fossem menos produtivas. É sabido que para cada quilograma a mais de leite produzido no pico de lactação, a vaca irá produzir cerca de 150 a 300 kg a mais de leite durante a lactação completa.

Portanto, para que vacas da raça Holandesa possam expressar seu potencial produtivo sob condições de clima quente, como na região de Maringá, é muito importante assegurar o conforto térmico dos animais. Entre as medidas práticas que podem ser adotadas estão as modificações no ambiente, sendo algumas simples, como fornecimento de sombra, e outras mais elaboradas, como aspersão de água e ventilação. Ambos geram aumentos significativos na produção de leite, conforme demonstrado em pesquisas no Brasil e no mundo, porém, o grau de melhoria de condição para o animal varia com o tipo de sistema de resfriamento utilizado, com o clima e com o nível de produção das vacas. Destaca-se a importância de se fazer uma análise de custo/benefício antes de adotar qualquer medida de controle de ambiente.

Associadas às modificações de ambiente, algumas alterações no manejo nutricional podem contribuir para amenizar os efeitos do estresse calórico. Por exemplo, se a vaca está consumindo menos alimentos por causa do calor, uma alternativa é aumentar a densidade dos nutrientes na dieta, o que pode ser feito por um Zootecnista. Outras práticas como o fornecimento de alimentos nas horas mais frescas do dia, aumento da freqüência de alimentação no verão e oferecer acesso freqüente a água limpa, também contribuem para diminuir os efeitos do estresse calórico.

Para maiores informações acesse o artigo:
Souza, R. et al. Produção e qualidade do leite de vacas da raça Holandesa em função da estação do ano e ordem de parto. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.11, n.2, p.484-495, 2010.

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