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11/07/2013

Leite de cabra - Composição e qualidade

Como qualidade do leite, entendem-se as características relacionadas à composição química do leite, condições sanitárias e fatores sensoriais, como cor, cheiro e sabor, que são característicos da espécie caprina. 

Dentre os componentes constituintes do leite estão a água e os sólidos totais, principais responsáveis pelo rendimento da produção de produtos lácteos. Os sólidos totais são constituídos, basicamente, por proteína, gordura, lactose, minerais e vitaminas. Destes, a gordura e proteína são os mais importantes componentes da qualidade nutricional e tecnológica do leite. 


O leite de cabra caracteriza-se por apresentar glóbulos de gordura de menor diâmetro, o que confere maior digestibilidade ao leite de cabra em relação ao leite de vaca, sendo indicado para crianças e idosos. Outro fator relacionado à gordura do leite é o perfil dos ácidos graxos, que é um recurso a ser explorado no marketing junto aos consumidores que buscam produtos nutricionalmente mais saudáveis. Comparando-se ao leite humano e de vacas, o perfil dos ácidos graxos que compõem a gordura do leite de cabra é mais rico nos chamados “ácidos graxos de cadeia curta”, sobretudo os ácidos capróico, caprílico e cáprico, os quais propiciam um melhor aproveitamento do produto pelo organismo, sendo indicados para pacientes com distúrbios intestinais. 

Assim como observado em vacas, o teor de gordura do leite é muito influenciado pela dieta, sofrendo grande variação, refletindo sobre o teor de sólidos totais. Por outro lado, o teor de proteína no leite é pouco influenciado pela dieta, visto que 55% da variabilidade na composição do leite é de origem genética. 

A caseína, principal constituinte proteico do leite, se organiza em formas de micelas, as quais possuem menor tamanho no leite de cabra em comparação ao leite de vaca, além da presença de baixos níveis da caseína alfa-S1 na proteína do leite de cabra, indicada como um dos principais agentes causadores da alergia ao leite de vacas. Pessoas que possuem intolerância à lactose apresentaram problemas ao consumir produtos lácteos em geral, independente da origem (cabras, vacas, búfalas e ovelhas), porque isso ocorre em função de uma inabilidade do intestino em digerir a lactose, a qual acaba sendo fermentada pelas bactérias intestinais, resultando em cólica e diarreia. 

Outro parâmetro de qualidade, relacionado aos aspectos sanitários, é a contagem de células somáticas (CCS), utilizada como indicadora da saúde do úbere devido sua composição em células de descamação do tecido e células de defesa do organismo. Desta forma, um aumento na CCS poderia ser um indicativo de reposta inflamatória, servindo como ferramenta para diagnóstico da mastite. Contudo, apesar da relação entre CCS e mastite ser amplamente conhecida em rebanhos bovinos, para cabras isto ainda é objeto de estudo. Tipicamente os valores para CCS no leite caprino são relativamente mais elevados que os de vacas, sendo influenciados por diversos fatores, que não estão relacionados à mastite, tais como: cio, estação do ano, produção de leite, número de partos e dias em lactação. Entretanto, alguns estudos mostram que, assim como em vacas, o aumento na CCS esta relacionado a menor produção de leite, daí a importância para o produtor de manter a CCS do rebanho em níveis menores possíveis. 

Já o conceito de contagem bacteriana no leite é o mesmo entre as diferentes espécies, e possui grande importância no controle de qualidade do leite, uma vez que elevados valores podem indicar leite velho, refrigeração inadequada e métodos não higiênicos na produção, manuseio e processamento do leite. O leite com contagem bacteriana elevada, pode significar a contaminação por microrganismos prejudiciais à saúde pública, sendo rejeitado pela indústria. Desta forma, medidas que evitem a contaminação do leite precisam ser tomadas, como ordenha higiênica, refrigeração adequada do leite e o armazenamento por curto tempo. 

No Brasil, os requisitos mínimos de qualidade do leite de cabra destinado ao consumo humano, segundo a Instrução Normativa Nº 37 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, são os seguintes: 2,8% de proteína; 4,3% de lactose; 8,2% sólidos não gordurosos; e 0,7% de cinzas. O teor mínimo de gordura não é fixado, sendo admitidos valores inferiores a 2,9% mediante comprovação de que o teor médio de gordura de um determinado rebanho não atinge esse nível. 
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Texto extraído de:
Ludmila Couto Gomes & Rodrigo de Souza. Produção de leite de cabra:  oportunidades de negócio e qualidade do leite. Revista Mais Leite, v.16, p.36-40, 2012.

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